(Lenda da raposa :tanuki)
Esterco de pedras

Numa época muito distante, quando alguns animais selvagens tinham o poder de transmutar em seres humanos, havia um tanuki (texugo) cujo maior prazer era pregar peças nas pessoas da região em que vivia. Esse tanuki já havia enganado várias pessoas, transformando-se em um perigoso samurai assassino e assustando os viajantes que cruzavam a mata. Também já tinha enganado quase todos os moradores de uma aldeia próxima com diversas artimanhas. Ele tinha orgulho de suas malandras peripécias, porém não se sentia plenamente realizado, porque nunca havia conseguido enganar um garoto de nome Hikoichi que morava na aldeia. O fato tornou-se uma questão de honra e, por toda a lei, o texugo queria, com algum truque bem-feito, iludir o menino ou, no mínimo, fazer alguma maldade para o garoto. Certa ocasião, quando Hikoichi e sua mãe estavam trabalhando na horta, o texugo ficou escondido em uma moita de capim para observá-los. Percebeu, então, que Hikoichi e sua mãe trabalhavam com afinco, cavando a roça para não perder a época de deitar as sementes. Então, o texugo teve uma idéia maligna. Quando a noite chegou, o texugo botou em ação o seu plano. Catou todas as pedras que havia na região e jogou-as na roça de Hikoichi. Aquela obra malvada certamente ia atrapalhar muito o trabalho de Hikoichi e sua mãe. O texugo vibrava de alegria só de pensar que, na manhã seguinte, Hikoichi ia chorar de raiva. É verdade que foi um plano trabalhoso, pois o texugo carregou pedra por pedra até a horta durante toda a noite. Ao amanhecer, estava prostrado de tanto esforço, porém satisfeito pelo serviço que certamente deixaria Hikoichi com muita raiva. Não tardou muito e Hikoichi chegou para trabalhar na horta. Vendo a roça forrada de pedras, o garoto logo percebeu que aquilo havia sido obra do texugo. Desconfiando de que ele pudesse estar por perto para saborear o resultado da sua obra maligna, disse, em voz alta, para sua mãe, que se aproximava da horta. – Veja que maravilha, mamãe! Alguma pessoa bondosa forrou nossa horta com adubo de pedra. Isso vai poupar nosso trabalho. Podemos voltar para casa e continuar dormindo. Imagine se tivessem jogado estrume de cavalo ou gado, ia ser desagradável e difícil de remover. Assim, puxando a mão de sua mãe, Hikoichi foi embora para casa. O texugo ficou se remoendo de raiva e jurou vingança. Ato seguinte, passou para a ação. Apesar de cansado do trabalho da noite anterior, começou a retirar todas as pedras que havia jogado na horta. Isso durou grande parte do dia e foi necessário muito esforço. À tarde, o texugo já estava arrastando as pernas de cansaço. Mas era tanta a sua vontade de se vingar, que ele empreendeu muito esforço e foi até o estábulo e depois ao campo, recolhendo todo o estrume de cavalo e de gado que encontrou pela frente. Era um trabalho muito desagradável, mas, decidido a atrapalhar a vida de Hikoichi, fez várias viagens para espalhar estrumes por toda a horta. Depois, esgotado, foi para a mata descansar, certo de que havia causado tremenda dor de cabeça para Hikoichi. Meses depois, chegou a época da colheita na roça de Hikoichi e de sua mãe. Para a surpresa de toda a aldeia, a horta deles apresentou a maior fartura de toda vizinhança. – Nossa, mamãe, a colheita foi ótima, graças ao adubo que o texugo espalhou em nossa roça. – É verdade, meu filho, acho que devemos agradecer a ele. Enquanto isso, na mata próxima da aldeia, o texugo estava completamente arrasado ao descobrir que a colheita de Hikoichi havia sido muito boa. Em vez de pregar uma peça no garoto, foi ele quem o enganou direitinho. Aquilo era humilhante para um texugo tão cheio de artimanhas. Sim, ele teria que se vingar de alguma forma. Enquanto tentava articular um plano vingativo, ouviu uma voz que o chamava: – Hei, Tanuki-san, mamãe mandou milho cozido para você. Nossa safra foi muito boa e achamos que você merece nosso agradecimento. Vou deixar os milhos aqui. Até logo e obrigado. O texugo saboreou o milho cozido com muito prazer. Esqueceu-se de toda a maldade que fizera até então e deixou de pregar peças no pessoal da aldeia. E mais, anualmente, passou a adubar a roça de Hikoichi e sua mãe e, conseqüentemente, a saborear milho cozido após todas as colheitas.
Liberdade

Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

A mim ensinou-me tudo.

Ensinou-me a olhar para as coisas.

Aponta-me todas as coisas que há nas flores.

Mostra-me como as pedras são engraçadas

Quando a gente as tem na mão

E olha devagar para elas.



"Quando todos os dias ficam iguais,
é porque deixamos de perceber as coisas
boas que aparecem em nossas vidas."
Paulo Coelho: O Alquimista


"Quando você quer alguma coisa,
todo o Universo conspira para
que você realize o seu desejo".
(Paulo Coelho: O Alquimista)


Queria ser como o Vento

O vento sopra
em teus cabelos.
Eles flutuam no ar
com liberdade e beleza.

Queria ser o vento
para poder te tocar,
para poder te sentir,
sem te machucar
nem te ferir.

Queria ser o vento
para estar ao teu lado
e soprar do seu rosto
toda tristeza e mágoa.

E como mágica
fazê-la flutuar
deixar os problemas
e sonhar...

Sonhar sozinha,
e sentir o carinho
com que passo por você.

Mas quando vejo,
você foi embora
e o vento acabou.

Você foi embora
sem saber como é
sonhar um sonho verdadeiro.
Você foi sem saber
o que é voar em devaneio.

Você se foi... sozinha.

Para onde estava indo
com estes olhos de esmeralda
com estes lábios doces
e seus cabelos que desciam suas costas
e subiam novamente

Pareciam um enorme campo
que o vento acariciava
e por onde ele passava
uma marca ele deixava.

Marcas de carinho
que você não percebeu
que estavam em você.

Marcas de carinho
que o vento não deixa,
que o vento não faz.

Mas sim, marcas que fiz
em teu coração.

Marcas sem dor,
sem sentimento,
sem cor.

Como o vento...

Vento,
que contorna seu corpo
sem te ferir,
sem você sentir.

Feche os olhos.
E veja o vento;
ele chora sua falta.

Mas com você, o vento fica
em movimento.
Ele tira suas mágoas
e te faz sonhar.
Te leva longe,
Onde o vento não vai.

Mas por você, o vento vai
até parar de ventar.
Aí você volta,
e se esquece.

Das alegrias, das risadas
do carinho que o vento te fez.

Como queria ser o vento
para te fazer feliz
mesmo que por pouco tempo,
mesmo que você não se lembre
estarei sempre perto...

Estarei sempre perto.
Estarei no seu coração.
Fiz marcas nele que não doem
Mas que para sempre ficarão.

Estarei sempre perto de você
como o vento...




Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz - disse ele depois de um tempo - temos um pequeno período de tranquilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e infestar todo o ambiente em que vivemos. Começamos a nos tornar cruéis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e psicoses. O que queríamos evitar no combate - a decepçao e a derrota - passa a ser o único legado de nossa covardia. E, um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livrasse de nossas certezas, de nossas ocupaçoes, e daquela terrível paz das tardes de domingo.
(em O diário de um Mago)
Paulo Coelho
Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que o seu caminho é o único.
Nunca podemos julgar a vida dos outros, porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia...
(Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei)(Paulo Coelho)


São os caminhos difíceis,

íngremes e tortuosos que nos

levam para o alto da montanha,

onde o ar é mais leve e mais puro,

a luz é mais brilhante e as

paisagens mais formosas...

Sou como você me vê..

Posso ser leve como uma brisa

ou forte como uma ventania.

Depende de quando e como

você me vê passar.

(Clarice Lispector)


Há muitas coisas que percebo que não sou,

mas dizer exatamente o que sou não consigo.

Tento, dia a dia, ganhar o título de ser uma pessoa.

E já não é pouco.

(a.d)