Há momentos


Há momentos em que
uma força poderosa,
mágica e secreta
nos empurra para a escrita.
Sossegar emoções?
Acalmar o desassossegado coração?
Deixar fluir a alma?
Não há explicação.
Só sei que...

Há momentos.

Daqueles que não esmorecem,
que nos impulsionam,
arremetendo de um intenso formigueiro
a mão que escreve
e o cérebro que fervilha.
E então
é com a pulsação acelerada,
a alma inflamada,
que me espraio nas folhas em branco,
que me enlaço nas palavras,
me quebranto,
me deixo envolver pela força dos sentimentos.
E tudo porque…

Há momentos!
*a.d*

Perda da sensibilidade

Hoje o dia amanheceu cinzento
e pesa toneladas no meu peito.
Para onde foi a minha sensibilidade?
Porque não se levantou hoje comigo?
Queria acordar com o canto das aves
bebericando a chuva da primavera
no peitoril da janela.
Queria contemplar as nuvens
e ver nelas mil e uma formas diferentes
e um cavalo alado
onde o meu sonho pudesse galopar.

Mas hoje sou só verdade,
hoje sou dura realidade
e os meus olhos são apenas olhos,
não vêem nada nas nuvens,
os meus ouvidos não escutam os pássaros
e até a minha pele ignora o arrepio
das gotas de chuva primaveris.

O meu peito não bate por nada,
está numa apática amnésia de prazer.
Os meus lábios não sorriem
nem sequer se contraem em dor,
estão ausentes de vida.

Onde se escondeu a minha sensibilidade?
Amanhã, se voltar a acordar sem ela
noticiarei o seu desaparecimento nos jornais.

Não sei viver sem o brilho,
o arrepio, a vontade, o prazer,
não sei limitar-me a existir
num existir sem emoções,
nesta morte espiritual.
*a.d*

*Denise Portes*

Nós saímos por aí projetando
o nosso amor no outro,
querendo que as pessoas
sejam do nosso jeito.
Eu gosto das diferenças,
da troca, dos desafios
do outro se revelando pra mim.

Denise Portes

Quando eu te amava sem pensar em nada,
era tanto amor que meu coração navegava
sem rumo e feliz pelos versos apaixonados.
A minha tristeza foi ter perdido essa falta
de rumo e ficar ancorada procurando o
horizonte que de repente ficou distante.