"Venho costurando minha vida com linhas de saudade.
Procuro equilibrar-lhes a cor para que o resultado final não seja triste.
Por vezes, é o cinza que insiste; por vezes, impera o marrom.
Ainda bem que tem saudade bonita; mudo tom,
amarro fitas, busco a outra ponta do novelo;
intercalo a trama em amarelo.
A saudade é assim mesmo, tecelã do tempo.
Quando menos se espera, arremata o momento,leva embora,
deixa a porta encostada, o cadarço de fora,
e nunca avisa a hora de voltar.
Ainda hei de costurar com verde florescente e,
se a saudade chegar autoritariamente, vai se sentir enfraquecida.
Enquanto procuro a cor, vou costurando a vida,
sem saber qual vai ser o resultado.
Caso ele não fique combinado, dou um nó, encosto agulha,
guardo a linha, que essa culpa roxa não é minha.
É uma artimanha branca do passado."
*Flora Figueiredo*