FEVEREIRO

 
 
FEVEREIRO

A ventania veio com delicadeza de névoa,
indistinta em como os anos haviam sido...
Mas ela tinha tanto amor em seus passos,
e tinha tantas flores na orla do seu vestido!

Só que o orvalho do jardim não resistira,
e caiu triste com ânimo de um moribundo.

A ventania derrubou o orvalho triste...
E ele era a pequena lágrima do mundo.
*Clebson Moura Leal*

OLHAR

 
OLHAR

Eu não sei se mereço que incline os teus olhos,
eles ainda tão antropológicos, em minha direção:
eu, que sou todo pensamento, dúvida e tristeza,
nem tenho esperanças mais na tua observação!

Além da efemeridade, além dos mistérios do tempo,
minha alma habitará sonhos que não compreenderão:
e minha vida tão sofrida, e meu corpo tão enfadonho,
acabarão na tua dureza, e ao teu olhar se humilharão...

Contudo, o meu amor, sem forças nem significado,
procurará noutras mil vidas a tua antiga bondade...
E o tempo voltará numa branda lágrima de tristeza,
e a imaginação trará tantas auroras de saudade!

E por todos, e por ti e por mim, somente amargura,
as estrelas ir-se-ão apagando pequenas e claras.
O silêncio removerá a lágrima, e o vento e a lua:
só ficarão as tristonhas estrelas das tuas palavras.
*Clebson Moura Leal*

DELICADEZA

 
DELICADEZA

Passarão por nós
ventos tão delicados,
com tanta delicadeza!

Mas estes nem moverão
as nossas pálpebras
de tanta incerteza.

E mesmo que esperemos
horas, dias, semanas, anos,
nenhum segundo se passará.

(Todavia chegará um tempo
em que sei que vossa vida
começará suave a repousar.

E sem que eu saiba a causa,
vossos olhos muito calmos,
aliviados e brandos se fecharão.

E ventos de muito longe,
pela minha tristeza
delicados passarão...)
*Clebson Moura Leal*