Destino..

Destino

Certo dia, depois das canseiras diárias,

Disse-me o Destino, com voz agonizante:

«Criei-te para a dor, para o sofrimento constante.

Da juventude foste privada.

Viverás uma vida angustiante.

Resta-te o pranto, a solidão.

Teus anos serão infaustos,

teus dias constante desilusão.»

Num gesto de desespero

chorei noites a fio.

Que futuro? Que presente?

Como suportar a desgraça iminente?

Foi então que decidi.

Invocado o mau Destino,

Respirei fundo e resisti

Troando a minha decisão:

«Não sucumbirei a ameaças vãs,

nem a presságios de desgraça.

As noites tornar-se-ão manhãs,

não é a noite, mas a aurora que me abraça.

À dor, reagirei com complacência;

ao sofrimento, com esperança;

à velhice, com confiança;

ao pranto, com um sorriso;

à solidão, com amor.

Agarrei o Destino com força,

nas minhas mãos em concha.

Depois, poisei-o devagar,

encolhido, resignado,

E deixei-o ali ficar.
(a.d)