*Sim sei bem

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
(Fernando Pessoa)
Tristeza
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo,
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como um desterro de minha alma errante,
Onde fogo insensato a consumia…
Só levo um saudade – é um desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz – e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou a vida…
(Alvares de Azevedo)
*.*
AMOR DISTANTE
Nem penso em te esquecer,
Já fazes parte do meu ser
Conjuga o meu coração
Preenche o meu pensamento
Abraça o meu peito
Amanhece o meu dia
Caminha a minha rotina
Invade a minha noite,
e adormeço nos teus braços
Sonhando este amor...distante!
(a.d)
*-*
Sinto muito

Sou diferente mesmo.

Gostem ou não, certo ou errado,

amado ou não.

Ouço e sou mutante, em nada radical,

assumo minhas convicções.

Escrevo meus delírios,

meus choros e meus risos.

Amo e des-amo.

E não tenho mais dúvidas,

Apenas a sombra delas.

Sou, nem sempre estou.

Gosto de lugares,

o que não me permite raízes.

Me transporto para onde ainda não existo,

Em belos desencontros

com amores que já tive.

E sinto muito...Saudades!

Falta não!

(a.d)