*Era uma rosa vermelha
ou uma rosa branca tingida
de sangue eram lábios
de tentador ruborou eram lábios
famintos de vida
eram olhos de escuro
intenso ou eram olhos vazios de luz*
*Poesia do silêncio
Nestas horas mortas que a noite cria,

entre um e outro verso do pavoroso poema,
que sob a pálida luz de uma vela eu lia,
me chegavam antigas lembranças de um dilema.
Quanto amargo e dissabor o silêncio produz!
Entre as sombras vacilantes da noite,
chegam em formas indefinidas,
que sobre minha cabeça pairam,
aves e outras criaturas aladas que de
infernal recônditos alçam vôo até minha mente,
a perturbar minh’alma.
Essas formas indefinidas das
sombras criadas pelo medo,
ocupando o vazio do meu ser,
preenchendo o que antes era
de sentimentos sublimes e,
agora, somente o sentimento de dor.
O que antes era alegria, agora é tão somente o dissabor.
Que pena paga um condenado pelos sentimentos!
Oh, agonia incessante.
Que martírios mais terei que suportar?
Como um medo tão latente do desconhecido,
pode tanto me apavorar?
Será do vazio de minha alma que sinto medo?
Ou do esquecimento do meu ser, por outro já amado?
Não é do fim da vida que treme minha alma,
mas do fim do sentir-se bem eterno.
Não mais existir não é tão doloroso quanto
o existir sem ser notado, ou amar sem ser amado,
ou perder o que jamais será recuperado.*
(a.d)
“... E de novo acredito que nada
do que é importante
se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos,
julgando ser donos das coisas,
dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos
os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão
de que tudo podia ser meu para sempre.."
"Excerto de 'De noite'
- Miguel Sousa Tavares"