Eu ainda acredito no amor

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Eu ainda acredito no amor.
E ainda espero que,
apesar das circunstâncias
difíceis que nos cercam todos,
o amor ainda acredite em mim.
Não parece razoável crer que
ainda haja uma afeição tão
pura que possa resistir a
toda a corrupção tão fácil,
tão atraente, que cerca a
existência de cada um
nesses tempos tão terríveis,
mas ainda deve existir uma
última resistência: loucos que,
como eu, ainda acreditam no amor.
O amor às vezes é caprichoso
e demora a se mostrar.
Alguns já estão tão cansados
de ser enganados por pseudo-amores,
amores grávidos sempre da mesma desilusão,
que não podem suportar
a idéia de amar de novo.
Isso é um crime horrendo.
É o aborto do amor verdadeiro e,
embora eu entenda melhor do
que ninguém a dor que leva
as pessoas a cometê-lo,
é necessário parar de
sufocar aquilo que há
de mais belo por causa do medo.
Eu ainda acredito no amor,
mas isso exige coragem.
Muitas vezes me encontro
absolutamente cansada,
pronto para desistir de lutar,
desejosa de que o amor acabe
e a vida possa seguir sem
mais perturbações do coração.
Nessas horas me lembro,
ao contemplar o mundo
feio e vazio do desamor,
como o amor é belo,
como traz à luz o
que há de mais encantador,
mais puro e mais
duradouro dentro de cada um.
O amor é a preservação da vida,
não da própria, mas da
vida de quem se ama.
É pensar no outro antes de si,
e assim, quando amamos e somos amados,
nos esquecemos de nós
e ainda sim somos felizes,
porque há alguém olhando por nós,
fazendo uma prece singela e
silenciosa por nossa felicidade.
Sem amor nosso egoísmo nos
leva a erguer reclamações vazias
aos céus reclamando mais e mais
para satisfação do próprio desejo,
e não há nisso nada de agradável
aos ouvidos de Deus.
Ainda acredito no amor,
porque a alternativa é
ainda pior do que sofrer por amor.
A morte do amor é o fim da esperança,
pois se não amamos não há o que
esperar além da morte
que chega apesar de tudo.
Por isso tenho esperança,
e se espero,
é prova de que acredito no amor.
O amor já me desapontou,
mas se eu desanimasse,
seria muito mais infeliz por
saber que cada tristeza seria o fim.
Se desanimamos no amor,
pomos ao fim de cada riso,
de cada beijo, de cada olhar,
um ponto final.
Após o ponto, não resta nada.
Após o amor, no entanto,
resta a verdadeira sabedoria,
aquela de não ter vivido em vão.
Ainda acredito no amor,
pois sei que o amor é perene
para aqueles dispostos a assumí-lo.
Acredito que podemos superar a dor,
que é passageira,
para enfim descansar nos braços
de alguém que nos queira bem.
Mas só se pudermos desistir de tudo,
e tudo entregar.
Se não tivermos mais apego
à nossa mesquinha liberdade,
à independência que não passa
de um apelido para a solidão,
se ousarmos acreditar,
seremos capazes de qualquer coisa.
Ainda existem aqueles
que acreditam no amor,
mesmo que agora
estejam entre as lágrimas.
Mesmo o amor passado,
que choramos por muito tempo,
não foi vivido em vão.
Ele nos mostrou que existe em nós
ainda alguma fibra para resistir
as investidas do mundo inteiro,
e encontrar um canto escondido
dentro da alma que ainda é capaz
de se deixar tocar pela beleza.
Acreditar no amor é
ter fidelidade a si próprio.
Negar o amor é
trair a si e a quem se ama.
Acredito no amor e não vou
desistir de amar porque
na noite mais solitária,
na angústia mais negra,
na dor mais intensa,
a lembrança do amor me valerá;
e quando for feliz,
serei muito mais feliz
do que jamais poderia esperar.
E nada no mundo traz uma
felicidade mais luminosa e intoxicante,
mais terna e libertadora,
do que o amor.
*a.d*

Caio Fernando Abreu


Eu quis tanto ser a tua paz,
quis tanto que você
fosse o meu encontro.
Quis tanto dar, tanto receber.
Quis precisar, sem exigências.
E sem solicitações,
aceitar o que me era dado.
Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais
do que você tinha,
assim como eu não daria
mais do que dispunha,
por limitação humana.
Mas o que tinha, era seu.