Vergilio Ferreira, in Pensar

"Inventa a eternidade na
simples comoção de olhar uma estrela.
Basta que a olhes pela primeira vez,
depois de a teres olhado inúmeras vezes.
E, então, não precisarás de nenhum "Deus"
que te ponha a mão no ombro e diga estou aqui.
Uma estrela espera-te desde toda a eternidade.
Procura-a.
E vê se a não perdes durante a vida inteira.
A tua estrela pode não estar no céu. Põe-na lá."

Você está vendo só?

Você está vendo só?
tão simples cair na vida de alguém
mesmo que seja de mansinho,
de pouquinho em pouquinho
até nos encontrarmos inteiros,
mergulhados, envolvidos,
na vida do outro


passa mais perto,
passa beirando meu abismo,
anda sobre a linha que nos divide,
é um risco assumido,
mas é o caminho que se percorre
para de leve, muito leve,
entrar na minha vida.
*Cáh Morandi*

Então, eu amo!

Deus tem sido muito bom comigo. Vezenquando, ele me sorri, brinca de acender céu e me fazer ouvir estrelas. Longe daquele Deus que eu tanto temi quando criança. Longe daquele Deus rancoroso que nos mostra o antigo testamento. Deus tem apaziguado meu caminho. Tem colocado mais flores que pedras.


Tenho pensado, nos últimos dias, em como Deus escolhe a dedo as pessoas que coloca perto da gente. E que, sem essas pessoas, as coisas seriam outras e a sorte, pequena. Tenho pensando, nos últimos dias, em como ele coloca uma luz, quando tudo parece não fazer sentido. Tenho aprendido muito. Tenho me enchido de luz. Tenho agradecido também, pelas coisas que alcancei, pelas mudas de sol postas no caminho, pelas gentes luzeiras e sorrisos bonitos. Tenho agradecido também pelas coisas feias que me atravancaram o caminho, mas que me tornaram mais forte e pronta pra enfrentar a vida. Tenho agradecido pelas ciladas do tempo, que só têm aumentado a minha fé e meu 'olhar com amor' para o mundo.

E, do meu jeito, tento retribuir da forma mais simples que sei: transbordando amor. Amor nas palavras, amor nos sorrisos, amor em tudo que eu faço, amor em tudo que eu vejo. Porque Amar, já é uma forma de prece.


Então, eu amo!

Ana Jácomo

"É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado.

É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado.
Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja.
Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.
Difícil é amar quem não está se amando.
Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente."