Perda da sensibilidade

Hoje o dia amanheceu cinzento
e pesa toneladas no meu peito.
Para onde foi a minha sensibilidade?
Porque não se levantou hoje comigo?
Queria acordar com o canto das aves
bebericando a chuva da primavera
no peitoril da janela.
Queria contemplar as nuvens
e ver nelas mil e uma formas diferentes
e um cavalo alado
onde o meu sonho pudesse galopar.

Mas hoje sou só verdade,
hoje sou dura realidade
e os meus olhos são apenas olhos,
não vêem nada nas nuvens,
os meus ouvidos não escutam os pássaros
e até a minha pele ignora o arrepio
das gotas de chuva primaveris.

O meu peito não bate por nada,
está numa apática amnésia de prazer.
Os meus lábios não sorriem
nem sequer se contraem em dor,
estão ausentes de vida.

Onde se escondeu a minha sensibilidade?
Amanhã, se voltar a acordar sem ela
noticiarei o seu desaparecimento nos jornais.

Não sei viver sem o brilho,
o arrepio, a vontade, o prazer,
não sei limitar-me a existir
num existir sem emoções,
nesta morte espiritual.
*a.d*

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