INESPERADAMENTE
a noite se ilumina:
que há uma outra claridade
para o que se imagina.
Que sobre-humana face
vem dos caules da ausência
abrir na noite o sonho
de sua própria essência?
Que saudade se lembra
e, sem querer, murmura
seus vestígios antigos
de secreta ventura?
Que lábio se descerra
e – a tão terna distância! –
conversa amor e morte
com palavras da infância?
O tempo se dissolve:
nada mais é preciso,
desde que te aproximas,
porta do Paraíso!
Há noite? Há vida? Há vozes?
Que espanto nos consome,
de repente, mirando-nos?
(Alma, como é teu nome?)
Cecília Meireles
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