-> Sombras
(Flori Jane)
Sombras... pedaços de vida exilados
Denunciando o suspeito e o insuportável
Resguardando em um casulo impenetrável
A tudo que, por medo, renuncio e condeno.

Sombras... que de tão vivas, tornaram-se sonoras
Chego a ouvi-las, perfilando-se na espera
Na expectativa ante um não que reverbera
Escravas incontestes do correr das horas.

Sombras... acobertadoras
De segredos inconfessos, diversos
Emparedando verdades, impondo lacunas
Cindindo-me em metades de trevas e luz .

Sombras, cujas trincheiras foram de improviso abertas
E que ganharam espaço, ao se verem libertas
Sombras... incuráveis feridas
Que mesmo contidas, sangraram.

Sombras quebrando barreiras, com a sua chegada
Desfazendo enganos, estilhaçando as vidraças
Mostrando, na inteireza, o barro de que sou feita
Expondo-me em nuances, na mais rude aspereza

Sombras, a refletirem luz ...
Revelando o sagrado, por tanto tempo contido
Liberando uma multidão de sonhos reprimidos
Desvendando os mistérios da razão cindida.

Sombras ... a desnudar-me
Deixando-me, por suposto, vencida
Impondo-se à consciência vezes seguidas
Mostrando-me, afinal, quem eu sou.

Sombras, iluminadas, por fim
Festejando a vida nas emoções soltas, fluídas
Águas revoltas lavando a alma ferida
E um Eu diferente, moldado em plena luz.

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